por Gabriella Gilmore
Kátia era uma mulher independente,
trabalhadora, do sorriso largo que andava na maioria das vezes de muito bom
humor. Os únicos dias que ela ficava diferente eram quando acordava emotiva ou
apaixonada. Kátia chorava por ser amada ou por amar demais. Essa era a nossa
querida Kátia.
Kátia tinha um grande amigo. Ele era
seu confidente, e por ter este título, ela sempre o confiava à pergunta
principal do seu dia: como estou hoje.
Esse amigo era o espelho do elevador.
_ Bom dia Sr. El. Como estou hoje?
_ Oh minha querida Kátia. Você está magnífica, como
sempre!
Kátia deu um sorriso e aproveitou
para fotografar aquele momento.
Colecionar aqueles
generosos elogios a ajudava afirmar quem ela era no mundo.
E Kátia sabia do seu
valor.
Além de ser administradora numa
grande empresa de automóveis na capital, Kátia também era promoter, filha
ajudadora, tia de sobrinhos sanguíneos e daqueles que ela escolheu adotar,
amiga acolhedora, instrutora de yoga e muito querida no centro onde ela tomava
conta do serviço social. Kátia era quase uma heroína da Marvel.
Um dia, Kátia acordou enferma. Ela
estava tão indisposta que mal conseguiu se levantar para pegar seu telefone e
mandar mensagem para alguém.
Kátia queria mesmo
era ouvir o que o Sr. El tinha para lhe dizer nesse dia.
Kátia adormeceu mais
um pouco.
“Trim, trim, trim”.
Seu telefone tocou.
Kátia custou a se levantar para
pegá-lo.
Com a lentidão para atendê-lo,
perdeu a ligação.
Era sua irmã mais velha.
Ela aproveitou que já estava de pé,
foi ao banheiro lavar o rosto e decidiu não ir trabalhar. “Antes de eu voltar para a cama, preciso conversar
com o Sr. El”. Pensou Kátia.
Desanimada, ela se
direcionou ao elevador.
O mesmo já estava
subindo trazendo algum vizinho.
Kátia cumprimentou a
senhora Carminha do apto 1105 e entrou no elevador.
_ Bom dia Sr. El. Eu estou um trapo. Acho que nem vou
te perguntar nada hoje.
Houve um silêncio. O espelho estava
calado.
_ Tá bom. Tá bom! Como estou hoje, Sr. El?
_ Oh minha menina! Você está maravilhosa até mesmo
cansada. Porque seu cansaço tem nome. Você trabalha muito e ama o que faz.
Manter-se ocupada é o seu maior vício, e você sabe que às vezes precisa parar
de salvar o mundo para se salvar. Volte para cama, recomponha-se que amanhã é
outro dia.
_ Eu não trouxe o celular.
_ Não precisaria. A imagem que eu tenho de você é
sempre a mesma: uma mulher sorridente, idealista, enérgica, que faz de tudo
para mudar este mundo para melhor.
Kátia abraçou a si mesma e voltou para
o apartamento.
Ela se alimentou, colocou seu melhor
look e foi viver!
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