quinta-feira, 3 de outubro de 2019

A moça do Sr. El


por Gabriella Gilmore

            Kátia era uma mulher independente, trabalhadora, do sorriso largo que andava na maioria das vezes de muito bom humor. Os únicos dias que ela ficava diferente eram quando acordava emotiva ou apaixonada. Kátia chorava por ser amada ou por amar demais. Essa era a nossa querida Kátia.
            Kátia tinha um grande amigo. Ele era seu confidente, e por ter este título, ela sempre o confiava à pergunta principal do seu dia: como estou hoje.
Esse amigo era o espelho do elevador.
            _ Bom dia Sr. El. Como estou hoje?
            _ Oh minha querida Kátia. Você está magnífica, como sempre!
            Kátia deu um sorriso e aproveitou para fotografar aquele momento.
Colecionar aqueles generosos elogios a ajudava afirmar quem ela era no mundo.
E Kátia sabia do seu valor.
            Além de ser administradora numa grande empresa de automóveis na capital, Kátia também era promoter, filha ajudadora, tia de sobrinhos sanguíneos e daqueles que ela escolheu adotar, amiga acolhedora, instrutora de yoga e muito querida no centro onde ela tomava conta do serviço social. Kátia era quase uma heroína da Marvel.
            Um dia, Kátia acordou enferma. Ela estava tão indisposta que mal conseguiu se levantar para pegar seu telefone e mandar mensagem para alguém.
Kátia queria mesmo era ouvir o que o Sr. El tinha para lhe dizer nesse dia.
Kátia adormeceu mais um pouco.
            “Trim, trim, trim”.
            Seu telefone tocou.
            Kátia custou a se levantar para pegá-lo.
            Com a lentidão para atendê-lo, perdeu a ligação.
            Era sua irmã mais velha.
            Ela aproveitou que já estava de pé, foi ao banheiro lavar o rosto e decidiu não ir trabalhar. “Antes de eu voltar para a cama, preciso conversar com o Sr. El”. Pensou Kátia.
Desanimada, ela se direcionou ao elevador.
O mesmo já estava subindo trazendo algum vizinho.
Kátia cumprimentou a senhora Carminha do apto 1105 e entrou no elevador.
            _ Bom dia Sr. El. Eu estou um trapo. Acho que nem vou te perguntar nada hoje.
            Houve um silêncio. O espelho estava calado.
            _ Tá bom. Tá bom! Como estou hoje, Sr. El?
            _ Oh minha menina! Você está maravilhosa até mesmo cansada. Porque seu cansaço tem nome. Você trabalha muito e ama o que faz. Manter-se ocupada é o seu maior vício, e você sabe que às vezes precisa parar de salvar o mundo para se salvar. Volte para cama, recomponha-se que amanhã é outro dia.
            _ Eu não trouxe o celular.
            _ Não precisaria. A imagem que eu tenho de você é sempre a mesma: uma mulher sorridente, idealista, enérgica, que faz de tudo para mudar este mundo para melhor.
            Kátia abraçou a si mesma e voltou para o apartamento.
            Ela se alimentou, colocou seu melhor look e foi viver!


Texto dedicado a minha tia/amiga Karla, uma pessoa maravilhosa que me salvou muitas vezes em BSB quando morei alguns anos por lá.

O insta dela é: @karlabolshaia & @bolshoicerimonial
Blogger: bolshaia.blogspot.com



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