quinta-feira, 4 de julho de 2019

O diabo e eu

por Gabriella Gilmore








De repente nos tornamos parceiros.
Parceiros do crime.
Eu sempre soube que ele sentia alguma coisa a mais por mim.
As suas brincadeiras de dizer que não era uma pessoa naturalmente boa, eu nunca consegui acreditar.
Portanto ele insistia. Insistiu tanto que foi capaz de encarnar o mal só para provar que o quê ele dizia era verdade.
Por alguma razão ele se foi sem se despedir de mim.
Na sua ausência, descobri que não conseguiria mais viver sem a sua presença.
Chorei todas as lágrimas acumuladas.
Até que um dia ele voltou para mim.
O que eu sentia por ele passou de uma amizade para amor carnal.
Eu desejava aquele cara, e sabia que ele também me queria.
Incomodado com algum segredo que eu não queria acreditar, ele finalmente se revelou.
Sua face se transformou no meu maior medo.
Fiquei chocada com tudo que vi.
Eu, de frente com o diabo, aquele que eu temia não acreditar.
Dessa vez, quem se foi sem dizer adeus fui eu.
Corri daquele amor profano que estava crescendo dentro de mim. Corri de medo do inferno. Eu corria. Corria...
Anos se passaram, até que finalmente consegui digerir tudo aquilo em que passamos juntos.
O diabo e eu.
Em uma noite qualquer, nos esbarramos por ai.
Aceitei tomar um drink com ele.
Eu fingia que estava bem, que o aceitava do jeito que ele era. Mas eu sabia que era tudo mentira.
Eu me apaixonei por um ser das trevas!
Gritei para os céus perguntando se o flerte com o diabo era a única coisa que eu merecia nessa vida.
Como não obtive respostas. Eu chorei, chorei o restante das lágrimas que restavam em mim.
O meu rio secou.
E o diabo em mim se apoderou.
De repente nos tornamos parceiros.
Desta vez parceiros no crime.

2 comentários:

  1. Ameeeeei! amo esses encontros inesperados mas que dentro da gente, é tudo que esperamos.

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  2. Uma hora ou outra nos esbarramos com nossos demônios. Cara a cara com aquilo que mais temíamos. O mal pode ser bem sedutor e instigante e, em alguns momentos, o percebemos quando já estamos envolvidas demais. Aí tememos. Tentamos fugir, com todas as nossas forças, mas o mal deixa marcas. Arrisco-me a dizer que as marcas deixadas pelo mal costumam ser bem mais profundas que as deixadas pelo bem. O bem é suave e delicado, já o mal, embora sedutor, nos apunhá-la. Feito a flecha no calcanhar de Aquiles. Nos conhece primeiro e nos devora depois. Sorte de quem consegue fugir a tempo ou de quem consegue se recuperar depois dos ataques.
    Belíssimo conto, como sempre.
    Um beijo.

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