"Acordei cedo pensando no que escrever para abrir esta nova
fase da minha vida, esta nova página que a pouco construí. Pensei em agradar
muitos, pensei em poucos destruir; foi em vão.
Antes disso, custei a dormir, tive vertigens e cheguei até
cair da cama. Fiz um chá amargo, daqueles de descer retirando todos os males
até mesmo o da alma. Acendi um cigarro que a muito não fumava devido ao recente
princípio de pneumonia. “Isso não está certo e é tampouco saudável.” Pensei.
Olhei aquelas cinzas sendo tragadas pelo vento na mesma hora que eu expelia sua
fumaça negra e eu podia ver rostos por entre aquelas névoas poluídas. Comecei a
rabiscar. Eu riscava tudo. Pichei as paredes do meu terraço, o chão perto da
máquina de lavar, pichei meu colchão vazio e como já não tinha mais o que
sujar, comecei a desenhar no meu corpo e quando me dei por mim, já era cedo, me
vesti e fui fazer minha caminhada matinal.
Lá eu encontrei as folhas dançando e aquele cheiro gostoso
da natureza. Comecei a correr. Eu corria tanto, mas tanto... Na verdade eu
corria de mim".
(Em O diário idiota de Rafaela)
Essa é uma das partes do Diário da Rafa que eu mais adoro.
É uma cena um tanto visual, psicodélica, e traduz muito bem como é a mente de uma pessoa inquieta, agitada, e às vezes artística.
Rafaela é isso, uma mistura singular do rápido, do hermético, da poesia.
Bom dia a todos!!!
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