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CRÔNICA
Em busca de um funeral.
Rafaela Drummond morava em Paris há mais de 20 anos. Depois que o seu diário a expus em rede nacional, ela decidiu se mudar para França quando seu casamento começou ir por água abaixo.
Nos primeiros anos, foi tudo muito glamouroso. O emprego até então, conseguia dar-lhe uma vida estável e de conforto como a dos europeus. A única chateação maior era a sua família que vivia cobrando presentes.
Os 10 primeiros anos foram prazerosos e de um conhecimento enorme, depois o paraíso da liberdade começou a mostrar o seu lado imperfeito.
Ela perdeu o emprego de assistente de redação da revista Voulez, e teve que arrumar um emprego qualquer às pressas. Acabou virando garçonete em uma cafeteria de um jornal da cidade.
Sua vida começou a virar uma dura rotina. Como ela precisou vender o carro para terminar de pagar a kit-net que estava morando, ela tinha que pegar dois ônibus e dois metros por dia para ir e voltar do trabalho novo.
Acordava muito cedo e chegava tarde. Ela precisou reaprender a dormir na marra. O cansaço era grotesco.
No domingo, ela tinha sua sagrada folga. Ela aproveitava para caminhar. Em uma dessas andanças, ela pensou seriamente em voltar ao Brasil. “Difícil vai ser aturar a palestra diária da minha mãe.”
Em dois meses, ela vendeu sua kit-net e voltou ao seu país desanimada e depressiva.
“Nossa, essa coisa de nadar, nadar e nadar, só te leva a um final: morrer na praia”.
_ Estou bem cansada Ju. Disse Rafa ao telefone com uma amiga. Voltar ao Brasil foi o mais sensato. Não quero morrer lá fora e ser enterrada como indigente, mas também não quero morrer aqui e deixar meu funeral para a família. Resolvi começar a pagar pelo meu enterro.
_ Você só pode estar de brincadeira!
_ Se você pudesse ver minha cara agora não diria isso. Mas é sério. A morte está perto. Eu posso sentir.
_ Suicídio faz o seu perfil, mas eu te acho covarde. Disse Juliana.
_ Ah não. Isso é para fracos.
_ O que sua mãe falou sobre isso?
_ Que estou fazendo a ela um favor.
Às vezes a gente não sabe o que é pior: Viver livremente, tendo condições de sustentar um padrão alto, e morrer sozinha, ou comer o pão que o diabo amassou em família, vendo as crianças crescerem.
Rafaela Drummond é uma personagem do livro “O diário idiota de Rafaela.” Gabriella Lima, 2011.
www.twitter.com/gabriellaclima
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