Uma
vez li um texto de Clarice falando sobre a capital. Eu ainda morava nas Minas
Gerais, e só conhecia BSB pela TV e por um breve momento que estive aqui em
2001, ainda adolescente.
Fiquei
tentadíssima para escrever uma crônica falando do que tenho achado desta cidade
tão excêntrica e tão única.
Brasília
é uma cidade para se conhecer em um passeio turístico e com um guia que saiba
com detalhes cada monumento que ela possui. Nem mesmo os nascidos ou criados aqui
sabem o tesouro cultural e de inteligência que ela tem. Depois disso, tire mais
ou menos um mês de férias para você continuar a entender suas quadras,
superquadras, tesourinhas e vias de acesso como W3 sul/norte, L2 sul/norte. Quem?
Pois é.
Nos
primeiros meses eu fiquei de cabeça doendo.
O
clima seco, juntamente com suas ruas sem nome incrivelmente iguais uma das
outras, me deixavam louca. Depois fui percebendo que esta culta cidade é lógica
matemática pura. Me apaixonei.
Em
seis meses eu já conseguia me deslocar aqui com mais facilidade e até comecei a
sentir saudade de como é se perder.
Uma
vez, tive crise de pânico dentro de casa no Cruzeiro. Precisei sair para a rua
para descarregar a explosão de energia que brotava de dentro de mim. Peguei
Matilda (minha Caloi) e fui correr dentro do bairro. Em uma hora eu rodei três
bairros.
Não
me perdi.
As
quadras por terem sequência numérica facilita a vida dos
brasilienses/candangos/aventureiros.
A
única coisa que me faz perder por aqui é o seu céu.
Quase
sempre limpo e muito azul, você consegue nadar nele sem ficar com os olhos
vermelhos e de cabelo duro.
O
nascer do sol é estupendo. O céu começa num laranja clarinho até ficar azul
bebê. A grama verde que tem por toda a cidade, monta perfeitamente a bandeira
do Brasil.
Para
quem nunca viu um céu rosa ou lilás escondido no rosa, pode esperar o por do
sol para você entender o que estou falando. Não. Eu não uso drogas.
Na
noite, você estica as mãos e rouba uma estrela. E a lua com sua sedução toda te
engole num piscar.
Cidade
da natureza.
Às
vezes acho que há uma cidade dentro de um parque, e não ao contrário.
Comecei
a fazer coleção de árvores aqui. São tantas, tantas! Nunca consegui fotografar
todas, e nem vou.
Brasília
é tão astuta que às vezes fico com vergonha de mim.
Eu
ando em algum lugar e me deparo com um concreto aparentemente sem explicação,
mas sei que se eu tivesse escutado melhor o guia turístico lá no início desse
texto, eu entenderia. Porém acho que o mistério dessa cidade está nisso, em te
deixar absorta.
BSB
tem uma coisa de que não acho graça. O povo e a comida.
“Ow,
me vê um prato típico de Brasília?” Ixxi, não tem. “Qual é o sotaque do
brasiliense/candango?” Abafa que também não tem.
Aqui
você vê muito nordestino, goiano, mineiro, e outros. Brasiliense que é bão,
nada.
Você
só consegue ter contato com eles no trabalho. Fora isso todo mundo some. Nunca
consegui pegar uma caneca de açúcar com minha vizinha do prédio. Será que vive alguém
ali mesmo?
As
pessoas aqui devem ter medo de gente. Só pode.
Entretanto
Brasília é moderna e ousada, apesar de ter essa população fechada e
individualista. É quadrada, às vezes oval, de concreto e cimentada. É Nova
Orleans, Paris e Saturno. É um museu de arte contemporânea em área aberta. É
logica, e nos ensina a caminhar um pouquinho, justificando aqui seus “quarteirões”
enormes e distantes um dos outros. Foi inspiração de vários artistas e ainda
tem mexido com muita gente, perpetuando-se. É Brasília, sua irreverente! Sua linda!!!
Que lindo, adoreiii....
ResponderExcluir