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sábado, 15 de novembro de 2008
CRÔNICA - CINCO MINUTOS
Era a última semana do verão e o calor ainda persistia.
Eu sempre gostei de banhar-me nas águas de um riacho próximo a nossa aldeia e na maioria das vezes nua. Meus pais já me corrigiram desse hábito, dizendo que eu não era mais uma criança e que já carregava comigo o pecado da lascívia.
Quando me vinham estes pensamentos, eu me enchia de pudor e logo saia da água para me vestir. Mas sempre tive a sensação de que havia alguém ali, me sondando e me dissecando toda.
Em uma dessas tardes, após o banho, fui à vila receber o leite, os ovos e o pão que o rei doava para o seu povo. E foi lá que o vi pela primeira vez.
Seu olhar sedutor e faminto me enchia os olhos e de alguma forma me senti à vontade com o fato dele não parar de me ‘fitar’. Claro que eu me pus no meu lugar e jamais quis causar má impressão, mas foi inevitável.
Nos apaixonamos por cinco minutos e em segredo.
Confesso que não me contive em olhá-lo. Mordia meus próprios lábios imaginando como seria um beijo seu. Foi quando ele quebrou o silêncio com um comentário:
- Muito bonito este gesto do rei Lancelot, não acha?
Eu, tímida, tive que estragar tudo com uma resposta diferente da sua questão.
- Como está quente hoje, não?
- Oh! Sim. Mas amanhã já começa o outono.
E ele não poupava em puxar assunto e eu quase sempre, ficava constrangida com toda sua desenvoltura.
Ele era alto, mãos grandes, barba crescendo, lábios finos, porém tinha uma boca grande. Sorriso largo e tinha um cabelo lindo que vivia jogando-o para trás.
Mesmo com toda sua discrição, ele reparou numa cicatriz em meu pulso, curioso quis saber e eu falei:
- Sabe, não sei dizer se foi um momento de fraqueza ou loucura, mas carregarei o olhar desesperado de meus pais por toda a vida. Comentei cabisbaixa.
E não mais, ele quis saber, ao perceber minha tristeza com tal lembrança.
- Nunca a vi por estas redondezas. Disse o rapaz quebrando o clima triste.
- Minha mãe que costuma vir aqui. Eu geralmente fico em casa com meus irmãos.
E conversamos até chegar a nossa vez para receber a cesta básica.
Depois disso nunca mais o vi.
Nunca poderei saber se ele foi real, mas carregarei para sempre aquele seu olhar guloso; aquela sensação de que já o conhecia.
UM ÓTIMO FINAL DE SEMANA PARA TODOS NÓS!
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Queria agradecer a todas as pessoas que tem passado no meu recanto e deixado suas marcas. E o mais legal, é quando você as encanta de alguma forma, e isso vira textos, palavras, cartas, comentários...
Uma de nossas colegas la do espaço, postou uma carta para mim sem ao menos me conhecer direito. SImplesmente adorei. São essas pequenas coisas que nos move a seguir adiante, firmes, sem medo de esta fazendo feio ou pensando que não é letrado o bastante para tal. De alguma forma, tenho sido escutada.
Carta de Sarah Simon à Gabriella Lima
http://recantodasletras.uol.com.br/cartas/1283662
Um beijo.
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