sábado, 20 de junho de 2020

Entrevista com Waleska Zibetti em 2008


Oi oi oiii pessoal!!
Boa tarde!

As pessoas que me seguem nas redes sociais, em especial no Instagram, sabem que hoje estarei fazendo uma Live com a escritora carioca Waleska Zibetti. (Fica o convite)

E tudo isso veio à tona quando eu reli uma entrevista antiga que eu havia feito com ela em 2008.

Então abaixo eu deixarei o conteúdo que não será abordado na Live, mas que serve como um complemento de informação sobre a escritora que tanto admiro.






Entrevista com Waleska Zibetti   
Publicado em 19/08/08 no site Recanto das Letras

Por Gabriella Corrêa Lima

Eu sempre achei curioso o fato dos escritores e poetas ganharem “mais respeito” apenas quando morrem, sendo que é muito mais interessante conhece-los em vida e assim podermos até ter a oportunidade de interagir com seus trabalhos em tempo real, digamos assim.

Pudera eu ter a oportunidade de me sentar e tomar uma xícara de chá com Augusto Cury e Lya Luft ou rever a Waleska Zibetti para poder dar gargalhadas com ela ao cheiro de menta, pois esses são os meus escritores favoritos em vida. Claro que não menosprezo os que já não estão conosco, muito pelo contrário. Nietzsche ainda reina em mim da mesma forma que vejo Lispector em sonhos. Mas hoje estou aqui para falar com a carioca da voz marcante, do gênio forte, que um dia tive a oportunidade de comer bolinhos com Coca-Cola em sua sala.

G.L: Oi Wal. (Posso cumprimentá-la assim?) Tudo bom?
W.Z: claro.  Boa noite Gabi. Tudo bem.

G.L: Você é se formou em Letras, certo? Já atuou como professora?
W.Z: Como professora particular. Nunca lecionei em sala de aula.

G.L: Antes de optar por Letras, você chegou a pensar em fazer outro curso? Qual?
W.Z: Eu pensei em Direito. Mas depois desisti do curso. E optei por Letras.

G.L: Alguns escritores gostam de escrever porque podem brincar de Deus. Como você cria seus personagens?
W.Z: O processo de criação é algo muito louco. É claro que a possibilidade de criar destinos é fascinante. Porém, já me aconteceu de ter montado a história toda em pensamentos de um jeito e a trama criar seus próprios caminhos. Como se o próprio personagem decidisse o seu destino, independente de mim. Às vezes penso que meus personagens são fantasmas que me habitam e quando eles vão para o papel  é como se se libertassem por fim.

G.L: Você se lembra de qual foi seu primeiro personagem?
W.Z: O meu primeiro texto escrito foi uma releitura do meu primeiro livro. E eu tinha mais ou menos 7 ou 8 anos.  E foi praticamente uma cópia do que li. 
Mas o primeiro personagem criado realmente por mim foi um português - Seu Manuel -dono de um bar no centro do Rio de Janeiro que deu origem a uma série de contos de nome "Contos de Boteco" que eu ainda não tornei público.

G.L: Você já quis ser algum deles?
W.Z: Eu acredito que de alguma forma estamos no que escrevemos. Não necessariamente somos. Mas alguma carga de nós vai em cada personagem.  Acho que isso nos faz um pouco cada um deles.

G.L: Você tem algum estilo literário ou prefere não se apegar em tais rótulos?
W.Z: Eu acho que não tenho um estilo. Eu não saberia me enquadrar nessa ou naquela escola. E, sinceramente, (que me perdoem os profissionais da Literatura) eu acho que enquadrar um autor a este ou aquele estilo é limitá-lo. E há textos que são completamente independentes de seu tempo.

G.L: Existe algum autor que você se identifica? Quem?
W.Z: Sim. Clarice Lispector, Florbela Espanca, Adélia Prado, Virgínia Wolf, Caio Fernando Abreu, João Gilberto Noll...

G.L: No seu ponto de vista, como você define a Waleska profissionalmente?
W.Z: Incompleta. Acho que eu ainda tenho muito a caminhar como escritora. Sempre sinto que falta algo no que escrevo. Acho que ainda posso ser melhor. Eu sei que posso ir muito além do ponto em que estou.

G.L: Você já tem bastantes textos escritos. O que está esperando para poder dividir com seus leitores? Eu quero um exemplar autografado hein? rsrs
W.Z: Eu acho que eu tenho medo de lançar e me escondo em algumas desculpas. Não é medo do fracasso. É medo da obrigação de escrever. Eu quero sentar-me diante da folha em branco e aventurar-me sem prazos. Gosto de sentir-me como um andarilho a cada linha. Sem obrigação com o ponto final. Leve quanto tempo levar. Escrevo porque amo. E escrevo quando quero.

G.L: Já li muitos contos de sua autoria. Seria legal se um deles virasse uma história para livro. Possibilidade remota?
W.Z: Um romance? Não sei! Acho que eu não seria uma boa romancista. Gosto muito de contos, crônicas... Tanto lê-los quanto escrevê-los.

G.L: Sua página no site Recanto das Letras é bastante visitada. Qual o segredo de tanto carisma?
W.Z: Acho que são os textos simples. Eu não gosto de complicar o que escrevo. Acho que leitura é água que deve correr tranquila. A ida até um dicionário pode por todo clima a perder-se. Meu leitor, (e isso dito por eles) leem tranquilos o que escrevo. Algumas citações que possam ocorrer não atrapalham a linearidade da leitura. O texto fica leve, acolhedor. Acho que é por aí.

G.L: A próxima pergunta será curiosidade pessoal. O que difere um escritor entusiasta a um amador? O amador também escreve com entusiasmo, não?
W.Z: Escreve. Eu tenho muita preocupação com essas nomenclaturas. Profissional, amador, entusiasta... Quem criou isso? Quem dita às normas disso? É complicado.  Acho sim, que se deve ter cuidado com o que se escreve como se escreve. E aí engloba tudo: conteúdo, concatenação de ideias, ortografia, sintaxe... Acho que isso que faz o escritor.

G.L: Como você define a sua arte?
W.Z: Lidar com a palavra é uma arma. Porque o texto lido pode entrar no seu leitor e mudar uma vida. Eu tenho uma pessoa conhecida que deu a própria filha o meu nome como homenagem. Porque ela estava passando por um problema pessoal, pensando em suicídio e por acaso leu um texto meu. E segundo ela, um texto que era tudo que ela precisava ouvir. Dali em diante ela mudou o pensar. Isso é extremamente gratificante. É como o aplauso ao ator. Mas, ao mesmo tempo, dar-nos uma responsabilidade muito grande com o que escrevemos e com o modo como nos posicionamos diante do que escrevemos. Hoje, eu escrevo preocupando-me muito com o modo como meu leitor será atingido ao ler.

G.L: Li uma matéria em que você escreveu falando sobre "Sequestro dos meus filhos". Concordo que é falta de respeito alguém usar nossas obras sem ao menos dar-nos os devidos créditos. Mas já parou para pensar que nossas inspirações não são 100% nossas? Que alguém bem antes já pensou algo parecido?
W.Z: Sentimentos são iguais. As almas é que mudam. Minha dor de amor é a dor do outro. Mas nem todos sabem exteriorizar esses sentimentos. Então, surgem os compositores, os poetas... Surgem aqueles de alma mais sensível que conseguem fazer legível aquilo que em coração se cala.

G.L: Waleska, fico muito feliz por ter tido esse bate papo com você e não vejo a hora de mostrar essa Wal que um dia vi de perto e que acredito muito no seu talento. Obrigada mesmo pela atenção. Eu gostaria que você deixasse um recado para seus leitores.
W.Z: Ai que responsabilidade!
Um dia um professor na faculdade me disse que eu desistisse de escrever porque não era minha área. Meus textos eram pueris demais e que o dom de escrever não era para todos. Hoje, eu gostaria muito de poder olhá-los nos olhos e dizer: "Poxa, ainda bem que não segui a opinião de um só. Porque hoje, quase doze mil me dizem justo o contrário do que você me disse."
O que quero dizer com isso é que não devemos parar nunca diante de um obstáculo. Parar não muda nada. É na persistência que criamos a possibilidade de tudo acontecer.

G.L: E eu gostaria de estar perto quando isso viesse acontecer. Você é incrível, Zibetti. Um forte abraço querida!

W.Z: Acho que ele não iria gostar de ter alguém por perto. Obrigada, Gabriella, pelo carinho.


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