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quarta-feira, 5 de setembro de 2012
CINCO MINUTOS
Era a última semana do verão e o calor ainda persistia.
Eu sempre gostei de banhar-me nas águas de um riacho próximo a nossa aldeia e na maioria das vezes nua. Meus pais já me corrigiram desse hábito, dizendo que eu não era mais uma criança e que já carregava comigo o pecado da lascívia.
Quando me vinham estes pensamentos, eu me enchia de pudor e logo saia da água para me vestir. Mas sempre tive a sensação de que havia alguém ali, me sondando e me dissecando toda.
Em uma dessas tardes, após o banho, fui à vila receber o leite, os ovos e o pão que o rei doava para o seu povo. E foi lá que o vi pela primeira vez.
Seu olhar sedutor e faminto me enchia os olhos e de alguma forma me senti à vontade com o fato dele não parar de me ‘fitar’. Claro que eu me pus no meu lugar e jamais quis causar má impressão, mas foi inevitável.
Nos apaixonamos por cinco minutos e em segredo.
Confesso que não me contive em olhá-lo. Mordia meus próprios lábios imaginando como seria um beijo seu. Foi quando ele quebrou o silêncio com um comentário:
- Muito bonito este gesto do rei Lancelot, não acha?
Eu, tímida, tive que estragar tudo com uma resposta diferente da sua questão.
- Como está quente hoje, não?
- Oh! Sim. Mas amanhã já começa o outono.
E ele não poupava em puxar assunto e eu quase sempre, ficava constrangida com toda sua desenvoltura.
Ele era alto, mãos grandes, barba crescendo, lábios finos, porém tinha uma boca grande. Sorriso largo e tinha um cabelo lindo que vivia jogando-o para trás.
Mesmo com toda sua discrição, ele reparou numa cicatriz em meu pulso, curioso quis saber e eu falei:
- Sabe, não sei dizer se foi um momento de fraqueza ou loucura, mas carregarei o olhar desesperado de meus pais por toda a vida. Comentei cabisbaixa.
E não mais, ele quis saber, ao perceber minha tristeza com tal lembrança.
- Nunca a vi por estas redondezas. Disse o rapaz quebrando o clima triste.
- Minha mãe que costuma vir aqui. Eu geralmente fico em casa com meus irmãos.
E conversamos até chegar a nossa vez para receber a cesta básica.
Depois disso nunca mais o vi.
Nunca poderei saber se ele foi real, mas carregarei para sempre aquele seu olhar guloso; aquela sensação de que já o conhecia.
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Belíssimo texto Gabi. Gostei muito. Rafa
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