Sobre o conto a seguir.
“Eu tenho tentado escrever por diversas perspectivas. Sabe como é, no passado eu só sabia escrever coisas
deprimidas, era como se meu mundo fosse todo em preto, branco e alguns tons de
cinza. Hoje, quando estou alegre demais não consigo escrever muita coisa, para
não falar nada. E eu ando até bem por demais.
Para ter conseguido escrever
este conto eu precisei me ligar numa outra frequência. Confesso que usei um
playlist com as músicas da Lana Del Rey.
O conto “Can’t fight the
moonlight” (Título inspirado numa música de Diane Warren) tem como base a única
lua que marcou a alma e a pele da personagem, e por ela eu escrevo o transe que é estar sobre seu feitiço.
Boa leitura.
Can’t fight the moonlight
Por Gabriella Gilmore
Depois de uma viagem de muito
calor e gargalhadas, finalmente tomamos um banho revigorante, passei o meu
melhor perfume, ele fez a barba. Caímos mortos na cama king size com o ar
condicionado ligado no mínimo. “Eu poderia rolar, rolar, rolar e ainda sim
folgar espaço neste colchão enorme”. Pensei.
“Que perfume é este”?
Perguntou.
Hesitei em falar porque não
era nenhum perfume importado. Fiquei acanhada da minha simplicidade.
“Não gostei muito”. Ele
completou a pergunta.
Revirei os olhos conhecendo
bem como ele era, afinal, tínhamos mais de 15 anos de convivência, de amizade,
de carícias.
Cada um tirou um momento para
si com seus smartphones nas mãos, ambos conversando sabe lá com quem através
daquelas frias telas.
A luz do quarto ainda estava
acesa.
Meu coração não encontrava mais espaço em meu peito para continuar
pulando da forma que ele saltava.
Eu estava ansiosa. Meus órgãos
se reviravam dentro de mim, e o calor de seu corpo semi nu estirado naquela
cama, bem ao meu lado, me aquecia me seduzia, e eu sabia que nada poderia
acontecer. Havíamos nos desligado há uma década. O que mais eu poderia querer?
Apagamos as luzes.
Ainda ficamos conversando por
algumas horas na cama, olhando para a penumbra do quarto.
Seu perfume incendiava o
ambiente e seu couro totalmente fervente, me acendia de forma covarde. Eu sabia
que ele queria, todavia por alguma razão que eu não consegui ler, ele evitava
fazer qualquer movimento que indicasse que gostaria de ter uns flashbacks.
Desejamos boa noite um para o
outro por diversas vezes, feito crianças enamoradas.
Finalmente ele pegou no sono,
diferente de mim que não encontrava posição certa naquela enorme cama. Eu temi
encostar em sua pele, mesmo sabendo que o seu calor já era um convite
indecente.
Dormi.
Nesse meio tempo, sonhei que
ao tocar em sua pele, seu corpo se abriu para mim, me dando espaço para eu me
achegar. Antes, ele teria tomado posse de mim, como um bom caçador que é, porém
de alguma maneira, ele não tinha mais essa iniciativa. Contudo, no meu sonho,
eu tocava em suas mãos enquanto ele estava com os olhos fechados. Suavemente eu
ia passando a ponta dos meus dedos nos seus e ia subindo até chegar em seus
ombros. Eu pude sentir seu arrepio.
Encaixei minha mão esquerda em
seu pescoço, me virei para ele. Com a mão direita toquei em seu abdome
apalpando levemente para cima até encontrar seus lábios. O meu desejo era
localizar seus lábios no meio daquela escuridão para eu poder beijá-lo.
Finalmente consegui me
conectar a ele.
Na verdade eu descobri que eu
nunca me desconectei da sua “moonlight”, que a nossa história não começou
direito para ter terminado, e que sua presença é o meu calcanhar de Aquiles.
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