sábado, 27 de agosto de 2011

ELA NÃO FURTOU O LIVRO



Na foto: Juliana Tozelli de Campinas - SP.
Ela também adquiriu o livro "O diário idiota de Rafaela".

Crônica nova para vocês leitores!

Depois de uma semana de crises de estômago, Clarissa finalmente acordou melhor. Quero dizer, um pouco melhor.
O suco de couve e o chá de hortelã na noite passada ajudaram bastante.
Ela custou a despertar quando olhou delirando para o relógio que marcara 8:45.
Preguiçosa, se levantou, estralou os ossos do corpo e foi tomar um banho quente.
Lavou os longos cabelos cacheados e hidratou a pele do rosto.
Escolheu um jeans rasgado, uma blusa larga e olhou para a janela. O sol ardia lá fora.
“Preciso passar filtro solar”. Pensou.
Colocou o gigantesco óculos escuro e foi para a biblioteca pública levando apenas o celular e as chaves de casa. Clarissa não planejava levar nenhum livro emprestado, afinal, já estava lendo duas obras no qual precisava terminar ao final do mês.
Chegando ao local, cumprimentou as velhas amigas que ainda trabalhavam lá, ouviu alguns elogios e finalmente foi para o segundo piso.
Começou a olhar para as prateleiras de M. de Assis e ficou vislumbrada com os números de obras que ele escrevera. Logo em seguida, dirigiu-se para a literatura estrangeira. Ela procurava por curiosidade algum livro da autora Virgínia Woolf. Achou quatro.
Ela recordou das ultimas palavras da amiga Rafaela, no qual dizia ser raridade encontrar alguma obra da inglesa em bibliotecas, afinal, era coisa muito antiga.
Programou-se para voltar ao final do mês para buscar um dos quatro.
Curiosa, foi dar um passeio na fileira da literatura norte americana. Viu dezenas das obras de Agatha Christie e relembrou da sua juventude.
Deu um leve sorriso com desdém e saiu da sala.
Olhou para o relógio e viu que precisava encontrar com uma amiga por ali perto.
Ao caminhar para a saída, ela viu uma placa enorme com o nome do escritor Fernando Sabino, e logo se lembrou da amizade que ele teve com Clarice Lispector.
A moça dos olhos marcantes começou a passar as mãos nos livros da prateleira quando estremeceu ao ver o exemplar “Cartas perto do coração”. Quando ela o pegou, uma lágrima de emoção caiu de seus olhos e ela se tocou que precisava levar aquele livro consigo de qualquer maneira.
“Graças a Deus eu tenho ficha aqui.” Suspirou correndo para alugar o livreto.
“Não encontro a sua ficha, moça”. Disse o rapaz.
“Como não? Sou leitora assídua aqui!”. Exclamou apática.
“Vou checar novamente”
Infelizmente o rapaz bibliotecário não encontrou.
“Posso ler um pouco aqui então?”
“Sem problemas.” Respondeu o moço de meia barba.
Ali, ela foi entrando na intimidade daqueles dois marcantes autores e percebeu que de alguma forma aquilo foi um chamado: Ela precisava comprar um livro daquele para ter só para si, sem prazo de entrega, sem se sentir uma ladra, porque naquele momento, ela pensou seriamente, por um instante, furtá-lo.

Um comentário:

  1. Vários livros meus foram comprados assim :)
    Ótima crônica, como sempre Gabiirhs!

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